Thais Nogueira

Political Assistant

Part of Speakers' Corner

20th February 2015 Brasilia, Brazil

Estatísticas, pinguins e um povo orgulhoso

SC falklands 1

No dia 23 de janeiro eu comecei uma (longa) jornada a caminho do Atlântico Sul. Mais especificamente, para as Ilhas Falkland. Lá eu passei uma semana com acadêmicos brasileiros do Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Foz do Iguaçu para aprender sobre o sistema político, economia, educação, planos de desenvolvimento, ciência e oportunidades de pesquisa nas Ilhas, mas também para conhecer a simpática e orgulhosa populaçãodas Falklands. Listei abaixo 10 coisas que aprendi sobre as ilhas em oito dias.

  1. Tão perto, tão longe Dificuldade de acesso: 4 conexões, 27h, 4095 km

Desde 1999, há apenas um voo comercial semanal para as Ilhas de Punta Arenas (Chile). Então, se você está voando de Brasília, como eu, você precisa parar em São Paulo (ou Rio de Janeiro) e Santiago, antes de chegar a Punta Arenas. Foram 27h para percorrer os 4095 km entre Brasília e Stanley, capital das Ilhas Falklands (é a mesma distância entre Pelotas, no Rio Grande do Sul, e Boa Vista, em Roraima). Mas graças a Deus, temos a companhia de livros e músicas durante todas essas horas.

  1. Estatísticas incrivelmente detalhadas!

Como já mencionamos antes, as Ilhas Falkland são compostas de menos de 3.000 habitantes mas, a sociedade é muito diversificada, com pessoas de mais de 60 países. Isso permite que o governo realize um censo detalhado da população. O relatório de 2013/2014 mostrou que:

  • 86% da população vive em áreas urbanas;
  • Apenas 1% da população (24 pessoas) está desempregada e 20% têm mais de um emprego;
  • Houve sete casamentos e 26 nascimentos em 2013;
  • Entre julho de 2013-2014, o hospital local fez 754 ultra-sons;
  • Turbinas eólicas no campo fornecem energia 24 horas, enquanto em Stanley, seis grandes turbinas eólicas fornecem mais de 40% da eletricidade.
  1. Economia: pesca, pesca, pesca

O produto interno bruto (PIB) real das Ilhas Falkland, em 2012, foi de 128,4 milhões de libras esterlinas, o PIB real per capita foi de 77.000 libras sendo 34% advindo da pesca e da aqüicultura. Se esses dois setores forem excluídos do cálculo, o PIB per capita cai para 30.000 libras, valor que ainda é muito alto. Com um número tão pequeno de habitantes e com um bom nível de renda, as Ilhas podem investir em diversos setores, incluindo a educação: o Governo das Falklands (FIG) subsidia universidades de ponta para estudantes no exterior e quase todos que vão estudar fora das Ilhas resolvem voltar, mostrando forte ligação com sua terra natal.

  1. Excelente cordeiro e lula

Em 2013, o número total de ovinos contabilizados nas fazendas nas Ilhas foi de aproximadamente 486.000. A criação dos animais é quase que exclusivamente feita com pastagens naturais e poucos produtos químicos, de modo que um grande número de fazendas são designadas como fornecedores orgânicos. Por causa da sua produção orgânica, a carne de cordeiro é incrível. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre as frutas e produtos hortícolas. O solo das Ilhas Falkland é ácido e infértil, além disso, há muito vento com clima frio oceânico, tornando muito difícil produzir plantas. Alimentos, bebidas, material de construção, vestuário e combustíveis têm de ser importados, o que significa que os produtos são caros.SC falklands 2

  1. Pinguins fofos por toda parte

O recém-criado Instituto de Pesquisa Ambiental do Atlântico Sul (SAERI) é uma organização acadêmica que realiza pesquisas no Atlântico Sul, inicialmente financiado pelo governo das Falklands, pelo governo da Geórgia do Sul e Ilhas Sandwich do Sul, e pelo FCO. O governo local considera que as Falklands podem combinar crescimento econômico com preservação do meio ambiente.

O meio ambiente local foi pouco estudado, assim a SAERI tem grande potencial para a investigação sobre as mudanças climáticas e seus impactos sobre a fauna e a flora no Atlântico Sul e Antártida. A região abriga 79 espécies de aves e cinco espécies de pingüins (que são muito fofos!); sendo que 70% da população global de albatrozes (da espécie black-browd) estão nas Ilhas Falkland.

  1. 18.000 Minas terrestres

Após o conflito de 1982, havia 25.000 minas terrestres sobre as ilhas, 20.000 antipessoal e 5.000 antitanques. Logo após o final do conflito, o exercício de desminagem retirou os dispositivos mais perigosos e os dispositivos restantes estão em pastagens não utilizadas e na orla marítima, bem sinalizados e monitorados. Alguns podem argumentar que não há necessidade da existência de minas, mas o Reino Unido, como um dos signatários do Tratado de Ottawa (conhecido como o Tratado de Proibição de Minas) tem a obrigação de retirar todas as minas. O FCO financia o trabalho de desminagem nas Ilhas desde 2009 e, em julho de 2014, comprometeu-se com mais duas fases do programa. Mesmo com intenso trabalho das empresas como a BACTEC, que traz do Zimbábue pessoas para retirar as minas, ainda existem 18.000 minas no solo tanto no oriente como no ocidente das Ilhas Falklands, o que significa que ainda há muito trabalho pela frente.

  1. Taxis com asas

As Ilhas Falkland são constituídas por duas ilhas principais e 778 pequenas ilhas situadas ao longo da costa. Isso é mais do que o dobro do número de ilhas em Angra dos Reis (RJ)! Devido a essa formação territorial (com a capital ao leste das Falklands e fazendas distribuídas em diferentes ilhas), a população depende em larga medida da FIGAS, serviço aéreo do governo das Falklands que funciona desde 1948. A FIGAS opera com cinco Britten-Norman BN-2B, que pode transportar até nove passageiros. É uma experiência e tanto aterrissar na grama, sem luzes de orientação!

  1. Conectividade e redes sociais

O acesso de banda larga à internet é fornecido via satélite e transformou vidas e relações locais, até mesmo nas fazendas mais remotas. Antes da internet, a comunicação era feita através de rádio e todos podiam ouvir (privacidade zero!). Com o advento das redes sociais, a população local se engajou! Com base nas estatísticas de 2013 da União Internacional das Telecomunicações (UIT), as Ilhas Falkland classificam-se como número um do mundo no quesito de alcance da internet, que é utilizada por 96,9% da população. As ilhas também têm a maior taxa de usuários no Facebook na América do Sul, já  66,2% da população possuiuma conta nessa rede social

  1. Indústria de hidrocarbonetos

A indústria de hidrocarbonetos local ainda está em fase exploratória, mas os representantes do governo local estão pesquisando e desenvolvendolegislações para que, quando e se a exploração for adiante, haja infraestrutura. O governo das Ilhas Falklands tem a responsabilidade de emitir licenças e de regular a indústria, sendo a regulamentação baseada nas normas do Reino Unido para o Mar do Norte, que são reconhecidas como um dos mais elevados conjunto de normas de segurança do mundo.

SC falklands 3

  1. Um povo orgulhoso!

Como o Primeiro Secretário Andrew Ford mencionou em novembro de 2013, nas Falklands não há trânsito, nenhuma poluição, não há razão para as pessoas trancarem as portas durante a noite, e todo mundo conhece todo mundo. Algumas das famílias estão no arquipélago há nove gerações, o que é impressionante. Eu, por exemplo, nem sequer sei onde nasceu meu bisavô… Todos com que conversei demonstraram orgulho de serem moradores das Falklands e desejavam continuar desenvolvendo uma ligação com o resto do mundo. Pelo que vi, eles têm muitas razões para estarem orgulhosos e eu garanto: eles estão no caminho certo para conquistar um futuro brilhante!

About Thais Nogueira

Thais joined the Embassy as Political Assistant in May 2013 to work on Foreign Policy issues. Before joining the UK Embassy, she worked for CEBRI, a Brazilian think tank, and…

Thais joined the Embassy as Political Assistant in May 2013 to work on Foreign Policy issues. Before joining the UK Embassy, she worked for CEBRI, a Brazilian think tank, and was Guest Researcher at SWP, a German think tank. She is interested in Global Governance, Brazilian Foreign Policy and Peace-keeping issues. She lived in Rio de Janeiro, Cairo, Bonn, Berlin and now enjoys Brasilia.